A experiência da Aula Viva…

Que alegria foi receber o convite da FUCAI para participar de uma Aula Viva! Logo após receber o convite, nos veio à memória o histórico de participações do Conselho Indigenista Missionário em anteriores aulas vivas desde 2014, através dos indigenistas missionários em que destacamos a participação de Edgardo, Adu, Dora, Cleane, Valério, Gilmara e Edna e que tão entusiasmados voltaram das aulas em que participaram! A chegada da pandemia de covid interrompeu essa troca de experiências, além de levar a eterna companheira Edna, que nos deixou junto ao companheiro Rocha. Assim em outubro de 2023 uma delegação do Brasil composta por 05 indigenistas do Cimi, das equipes Borba e Javari e da coordenação regional, junto a 08 lideranças indígenas dos povos Kanamari, Mayoruna, Kulina e Mura nos deslocamos as comunidades indígenas da Abundância.

Que satisfação seria reencontrar com os companheiros da FUCAI em mais uma Aula Viva acontecendo na tríplice fronteira! Que alegria poder participar da cerimônia de graduação de uma turma da guardas socioambientais que iria se realizar nessas datas e proximidade!

Corroboramos que participar de uma Aula Viva da FUCAI é uma experiência transformadora e contagiante. A proposta pedagógica e metodológica, construída a partir das experiências realizadas e sistematizadas  ao longo da caminhada nestes mais de 30 anos, une diversos componentes fundamentais tais como soberania alimentar, infância e governo comunitário, numa metodologia integrando todos eles harmoniosamente em teoria e prática.

No mais chegar em Letícia, a cerimônia de graduação da guarda indigena e posterior Marcha da Guarda Ambiental que acompanhamos foram toda uma amostra da dedicação, disciplina e empenho dos povos indígenas e da própria Fucai em promover processos formativos qualificados e locais que promovem o desenvolvimento de suas populações e a promoção da vida plena para a defesa do território. As formações diversas contempladas em módulos e num processo formativo em parceria com organizações da sociedade civil e com reconhecimento de instituições de ensino superior, fortalecem a experiência da guarda indigena que se fundamenta na espiritualidade e no trabalho coletivo.

A Aula Viva vivenciada na comunidade de Nuevo Jardin, não diferente da Guarda Indgena, também nos apresenta toda uma experiência integradora das várias componentes fundamentais para a defesa da vida e do território, que vão desde o reconhecimento a seus habitantes, povos e territórios, à proteção, guarda e zelo pelo território, por meio do manejo da floresta como um grande jardim da criação, promovendo a biodiversidade, a soberania alimentar e a cozinha nativa das comunidades. A integração destas atividades junto à espiritualidade como elemento fundamental, completa o sentido à experiência

Nos dias de aula viva percorremos vários momentos marcantes para seus participantes e que fazem da aula viva uma experiência extraordinária iniciando na própria abertura, com o reconhecimento das lideranças locais, das crianças e dos próprios participantes para posteriormente reconhecer os princípios da Escassez e a Abundância, extremos em disputa que vivenciamos na Amazônia, mas não somente na Amazônia, mas que também actuam em disputa nas nossas comunidades, organizações e em nós

Na ocasião, além da pedagogia, metodologia integrada à prática, o elemento que mais nos surpreendeu foi o cuidado integral com a vida, com as crianças indígenas sendo acolhidas no seio da comunidade e das atividades, participando junto aos adultos, homens e mulheres nas atividades. É destacável como o acolhimento nas comunidades pelos gestores culturais das crianças e juventudes tem diminuído altos índices de suicidio. dados do relatório violências do cimi acusam dados altos no brasil. Destacamos também o jeito consciente e coerente da FUCAI trabalhar junto às comunidades na própria realização do encontro, promovendo a economia local e o envolvimento da comunidade na alimentação e alojamento dos participantes.

A promoção de uma alimentação local e saudável como a que a comunidades nos propiciaram a partir da promoção da biodiversidade e do plantio sem queima, nos forneceu em todo momento com alimento local e saudável, sem produtos industrializados, sem químicos e sem queimadas, com produtos produzidos localmente. Importantes e destacados os números das áreas reflorestadas pelas comunidades indígenas! Fizemos nossa contribuição no plantio das mudas de plantas madeireiras, claro, com os devidos benzimentos.

Após o dia de plantar as mudas de árvores trazidas pelos participantes, encerramos a Aula Viva no dia de colher, realizando  a mandala da Abundância e posterior experiência de cozinha nativa, elaborada a partir dos alimentos produzidos no território, valorizando saberes e produtos locais e incentivando a soberania alimentar. Que delícia! A medicina local também se fez presente ao longo desses dias nos auxiliando nas eventuais demandas que foram surgindo. por último ressaltamos o processo das aulas vivas, a oportunidade de criar sinergias que o espaço cria com a presença de organizações várias além da FUCAI que ali se fazem presentes como tem sido a presença de Podium Serviço pelo Mundo e que  fazem parte desta rede panamazônica de defesa da Vida

Vivemos tempos de mudanças climáticas e nós precisamos de uma conversão ecológica integral. Os povos indígenas são os guardiões das florestas do amazonas e na Amazônia, são eles quem fazem essa firme defesa do território. Frente os desafios da amazônia e seus contrastes, creemos firmemente na metodologia das aulas vivas como metodologia a ser usada no brasil integrando as diferentes formações e apoios aos povos indígenas do Brasil numa proposta metodológica concreta a facilitar o desenvolvimento de alternativas sustentáveis além das fronteiras nacionais na panamazônia

Os povos indígenas no brasil são 0,8% da população porém conservam 14% território nacional e defendem 85% da biodiversidade do.brasil. Apesar de alguns territórios já reconhecidos, ainda mais há uma morosidade nos procedimentos de mais de 50% dos territórios indígenas no Amazonas, como o povo Mura do Amazonas, com terras ainda a ser reconhecidas ou outras, reconhecidas em fragmentos do território que inviabilizam a soberania alimentar de seus povos.

A presença de invasores tem trazido insegurança aos territórios já reconhecidos, como a Terra Indigena Vale do Javari, que restringem o usufruto da terra e traz insegurança alimentar associada.  Hoje em dia a maioria dos territórios sofre de invasões de gado, madeireiro, pescador, empresas de turismo, e presença de narcotraficantes ou piratas, e quando não, são territórios fragmentados ou degenerados por pasto, desmatamento ou mineração. Na omissão e complicidade do governo com, nos territórios reconhecidos e a reconhecer, os próprios indígenas têm realizado a defesa e cuidado do território e com a vida , especialmente na pandemia quando da omissão do governo negacionista do Brasil no momento, criando barreiras sanitárias e fortalecendo sua soberania alimentar e saúde tradicional numa guarda e zelo do território, povo e Vida. Ressaltamos a integração das diversas formações numa complementaridade à figura da guarda e zelo pelo território.

Para além da luta pelos territórios, precisamos continuar a fortalecer a vida dentro dos territórios, implementando experiências que possibilitem a permanência dos povos indígenas nos territórios a partir de seus planos de vida e a partir de experiências concretas que possam virar política pública. Os índices de mortalidade infantil ainda são mais elevados nas TI que na média nacional e os índices de suicidio no Brasil também são alarmantes.

Nestes anos será importante continuar a promover a formação qualificada e integral dos povos indígenas da Panamazônia em defesa da Vida e seus planos de vida, assim como promover o intercâmbio de experiências entre as iniciativas existentes e de reconhecido sucesso entre as organizações da sociedade civil organizada.

Neste cenário proximo de Fospa 2024 e COP 2025, é preciso trabalhar em rede e desde o local até o global, tendo a rede de organizações socias locais de Manos Unidas nos diversos paises da Panamazônia  muito a poder nela contribuir junto a Repam, Igreja e MIneração e os povos indigenas da Panamazonia

Chiquinho (Francesc Comelles Carrera) da coordenação regional

Conselho Indigenista Missionário Regional Norte I Amazonas e Roraima